quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Yidishe Mame de Santo

 Ótimo! Nós aceitamos o convite – Respondi muito feliz – Mas… Só tem um probleminha – Continuei:
-Se a programação começa na sexta feira à noite e se estende pelo sábado durante o dia, minha família e eu, que guardamos o Shabat, não poderemos participar da maioria das atividades. Atrapalharia o programa se chegássemos somente no sábado à noite?
-Creio que não – Respondeu-me a amiga Ogunladê, que nos convidara a participar de um programa sobre o resgate da história da escravidão no Brasil, em Salesópolis – Ligue para a responsável, ela se chama Gilda Brasileiro. É uma ativista da causa negra. Gente muito boa, com certeza vai dar um jeito na situação.
Em um minuto eu já estava ao telefone ouvindo-o chamar pela segunda pessoa do singular, que me atenderia do outro lado da linha:
-Tú! Tú! Tú!
-Em questão de segundos a segunda pessoa: Tú, se transformara em terceira: Ela, e logo que o diálogo se iniciara, juntos nos tornamos a primeira pessoa, mas desta vez do plural: Nós.
-Alo! Quem está falando? – Perguntou minha interlocutora.
-É Gilda Brasileiro? – “Respondi”.
-Pois não – Disse a mulher num “carioquês” arrastado e gingado como eu nunca havia ouvido antes.
-Eu me chamo Gilberto Ventura e sou da comunidade judaica.
-Pois não seu Gilberto – Respondeu Gilda.
-Eu e minha família fomos convidados a participar da Rota Dória – Este era o nome da programação – E como somos judeus e guardamos o Sábado, não poderemos chegar na sexta. Será que daria pra gente chegar somente no Sábado a noite?
- Não tem problema seu Gilberto. Você pode chegar no Sábado a noite e não se preocupe, por que eu também sou Goldemberg!
-Eu também sou Goldemberg – Pensei alto.
-O que? – Perguntou a mulher.
- Ãh? Não foi nada não. Eu só estava dizendo que…
-Bom seu Gilberto, nos veremos no Sábado à noite.
-Combinado dona Gilda. Muito obrigado!
Depois de desligar o telefone pensei:

-Goldemberg… Engraçado, pode ser bobagem da minha cabeça, talvez até preconceito, mas eu nunca ouvi alguém da comunidade judaica falar de um jeito tão gingado como o dela. Também nunca vi uma judia negra com um sobrenome tão europeu quanto este. Então, será que… Saquei! Ela deve ser casada com um judeu ashquenazi de sobrenome Goldemberg! Bom, quer saber de uma coisa? Isso não importa, o importante é que está tudo acertado.
Fiquei satisfeito com o arranjo e dois dias depois, após o término do Shabat, partimos para Salesópolis.

Chegando lá, fomos levados ao refeitório da pousada, onde conversávamos animadamente com uma senhora evangélica, que se dizia maravilhada por interagir pela primeira vez com judeus “de verdade” quando…
-Boa noite e bem vindos – dirigiu se a mim uma mulher de tez negra, olhar firme e não menos firme aperto de mão.
-Boa noite e muito prazer – Respondi, com mais curiosidade do que firmeza, já imaginando de quem se tratava – Eu sou o Gilberto Ventura da comunidade judaica – Completei.
-Muito prazer seu Gilberto – Respondeu a mulher fixando seu olhar em meus olhos– Eu sou Gilda Brasileiro… Goldemberg!
Ao invés de continuar a conversa, não tive outra reação a não ser a de fixar o meu olhar no dela. A duração deste encontro visual foi de poucos segundos, mas pareceu trazer consigo respostas a questões há muito esquecidas. Era como se uma espera de anos ou talvez até mesmo de décadas tivesse chegado a termo.
-Eu sou Yidish! – continuou a mulher, cortando o silêncio e me deixando ainda mais perplexo por ter usado esta palavra.

-Yidish – Pensei – Este termo judaico/europeu nem mesmo nós judeus usamos muito. Como é que ela…?
-Vou lhe explicar – Continuou Gilda percebendo meu espanto – Meu pai é negro e católico. Minha mãe era judia russa e eu, como filha de mãe judia sou judia! Em matéria de religião eu não sigo nenhuma das duas, pois sou “do Santo”, mas que sou judia, ah… isso eu sou! Como é que uma filha de uma Yidishe mame não seria judia? Hein?
-Naquele momento minha feição se iluminou. Era a primeira Goldemberg negra, judia e filha de russa que eu conhecera na minha vida. E mesmo para mim, que sou uma pessoa muito acostumada com a diversidade, esta verdadeira síntese Brasileira, Afro/Ashkenazi foi uma grande surpresa.

E saiba de uma coisa – Continuou a sra Goldemberg – Eu me orgulho muito de ser filha destes dois povos perseguidos, porem fortes e vitoriosos.
Com tudo esclarecido o bate papo começou e em poucos minutos minha esposa Jacqueline, também neta de avó russa, descobriu que o ano e o percurso,( perdendo o desembarque na Argentina), que sua avó Frida fizera para chegar ao Brasil fora o mesmo de Hilda a avó de Gilda. Com isso as duas chegaram a conclusão de que esta talvez não fosse a primeira vez em que suas famílias se encontraram.

A sequência da conversa pareceu enredo de livro, com situações das mais emocionantes e surpreendentes.
-Apesar de afastada da comunidade eu sempre fiz questão de manter a identidade judaica viva na minha família – Disse Gilda – E por isso, fiz questão de dar um nome judaico ao meu neto. No começo eu queria Yossef, mas depois, por uma questão de contexto, achei que seria melhor Joseph. Porem o sobrenome, Ah… Isso eu não quis nem saber! Ele foi registrado com o sobrenome de minha mãe: Goldemberg: Joseph “Goldemberrrg”!
A conversa continuou por horas a fio. Nos dois dias seguintes mais situações incríveis aconteceram e a amizade entre as famílias foi carimbada com o selo do Destino.
Depois deste encontro, recebemos Gilda e sua filha Hilda mais duas vezes em nossa casa. A terceira vez foi no Rosh Hashana, sem a presença de Gilda que acabara de embarcar para Portugal para cursar um doutorado de arqueologia, curso com o qual fora merecidamente agraciada graças a suas descobertas arqueológicas e contribuições para a causa da igualdade racial no Brasil.
Aqueles dois dias de Rosh Hashana – O ano novo judaico – foram sublimes, pois neles pudemos testemunhar a emoção de Hilda acendendo as velas do Shabat pela primeira vez em sua vida e de seu filho Joseph acompanhando e perguntando o sentido de cada rito que fazíamos.
-Estou feliz de estar aqui com vocês – Disse Hilda – Já faz um tempo que eu queria fazer Tshuvá! – “Retornar a casa.”
Ao ouvir esta afirmação, fiquei olhando estupefato para ela e para seu filho, que já considerávamos como parte de nossa família. Como a vida é incrível – Pensei – Quando abrimos os braços aos nossos semelhantes deixando de lado os velhos preconceitos encontramos verdadeiros tesouros!
Algumas horas depois, no jantar, mais uma cena inesquecível:
Entre vinte convidados que incluíam alem de Hilda e Joseph, nossos queridos pais, irmãs, cunhados e sobrinhos e nossos queridos amigos, padre Bizon e a cantora Fortuna – Que nos brindara com suas maravilhosas canções; Tatiana Belinki, a nonagenária imortal da academia Paulista de letras, colega e adaptadora de Monteiro Lobato à TV e uma das mães da televisão brasileira, descrevera para Hilda, como fora a sua surpresa e subsequente simpatia nas duas primeiras vezes em que vira “aquelas pessoas de tez negra e sorrisos alvos”.
A primeira vez fora em sua terra natal, a Rússia e a segunda dentro do navio no qual viera ao Brasil. Sabe-se lá se não estava acompanhada de Frida, a avó de minha esposa, e Hilda, a avó da Gilda, talvez conversando sobre romances, política ou quem sabe se o assunto não era sobre como seria a vida …. no Brasil?

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Benei Anussim - 18 anos de atuação.



1996 - Teatro para crianças, no clube A Hebraica sobre 'O Shabat dos judeus descendentes da Inquisição'.

1998 - Composição do Samba 'Odisseia da Nação' sobre a vinda dos Anussim ao Brasil.
2003 - Apresentação do samba no Festival de Música judaica do clube A Hebraica:


2004 - Apresentação de tema referente aos Benei Anussim no Festival de Música judaica do clube A Hebraica, com 3 prêmios:
-Primeiro lugar no Juri popular. Melhor banda e terceiro lugar no juri oficial.


BAR OU MITZVAH





2005 - Viagem ao Rio Grande do Norte 

No ano de 2005 viajei, ao Rio Grande do Norte, à convite do Joaquim Galvão, presidente da Federação Israelita daquele estado, para conhecer pessoalmente a comunidade dos Benei Anussim da cidade de Natal. 
Naquela oportunidade conheci e fiz amizade com vários Benei Anussim praticantes, entre eles o Senhor João Medeiros, líder religioso da comunidade e um dos precursores do movimento no Brasil.
Durante 2 semanas convivi com ele e sua família, de modo a absorver mais conhecimentos para ajudar melhor a causa.
Em seu livro 'Nos passos do Retorno', o Sr João faz um agradecimento a minha pessoa e eu escrevo uma recomendação na contra-capa. Desde então nos comunicamos via internet e nos encontramos pessoalmente no início deste ano.



2005 - Proposta de trabalho sobre a história judaica do Brasil e a causa dos Bnei Anussim na Escola Beit Yaacov. 
2008 - Viagem à Recife com a Escola.
2009 - Viagem à Recife com a Escola.

Naquele ano (2005) comecei a dar aulas para os alunos do ensino fundamental sobre o tema e nos anos seguintes a escola instituiu uma viagem anual para Recife (que ainda é feita) com o intuito de ensinar aos alunos do sexto ano a história judaica do Brasil. Nos dois primeiros anos eu participei da viagem e, por minha intervenção o tema dos Benei Anussim foi tratado, inclusive com palestras do dr Luciano Canutto da Paraíba, 'Mohel dos Benei Anussim', que emocionaram e marcaram os alunos.

2011 - Com o advento do facebook e do Youtube, passei a postar vários textos e vídeos referentes ao tema dos Benei Anussim, de modo a motivar as comunidades espalhadas pelo Brasil e também para informar os judeus das comunidades convencionais à respeito da causa e da necessidade de apoiá-la. Com isso me tornei uma referência para Benei Anussim de todo o país.

Vídeos:

Gaspar da Gama - O Judeu que descobriu o Brasil

O padre, neto de rabino que fundou a cidade de São Paulo

A carne seca

Raízes judaicas do povo brasileiro

Chorar a morte da bezerra

Apontar para estrelas dá verrugas

Textos:








2012 - Recebi o ativista e Ben Anussim Luciano Canutto da Paraíba, em minha casa e postei uma entrevista minha com ele no Youtube:

2013 - Recebi o Ben Anussim Roberto Cosme de Fortaleza em minha casa e fiz uma entrevista com ele em meu canal do Youtube: 

2013 - Recebi o Ben Anussim, Leonardo Cunha, de Recife, para o jantar de Shabat em minha casa e após alguns encontros ele se tornou um destacado ativista da causa. Fiz com ele uma entrevista em meu canal do Youtube:

2013 - Programa Mosaico na TV

Estrelas e verrugas

Carne seca

Entrevista Raniery e Rodrigo

2014 - VIAGEM POR 5 ESTADOS DO NORDESTE PARA APOIAR AS COMUNIDADES DOS BENEI ANUSSIM, COM MUITAS DEZENAS DE CONVERSAS PESSOAIS, ENTREVISTAS E PALESTRAS.

- Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará.

Rio Grande do Norte - Buzios. Sinagoga e Mikvê.






Rio Grande do Norte - Natal. Sr João Medeiros, um dos pioneiros do movimento. Tem sinagoga e articulação com a comunidade 'oficial'.



Cemitério Judaico em Eunápolis - Bahia. Lá eles tem uma comunidade de aproximadamente 50 pessoas, com sinagoga.



Recife
Palestra na Sinagoga Tzur Israel - A primeira das Américas.



Com o Chacham Essoudry, judeu marroquino (sogro de minha irmã), que apoia há décadas os Benei Anussim e que comanda uma sinagoga/comunidade de Benei Anussim


Na sinagoga Bet Shemuel do Chacham Essoudry




Palestra na Paraíba com dr Luciano Canutto e Professora especialista em genealogia. 





Este artigo foi motivado por minha viagem.

2014 - PURIM NA RUA DO BOM JUDEU EM RECIFE 
Com a participação de 200 Benei Anussim de todo o nordeste!














2014 - Viagem à Fortaleza para apoiar a comunidade de Benei Anussim local.









2014 - Pessach 
Participação, nos dois sedarim e hospedagem de dois Benei Anussim, Raniery Zarchai, de Pernambuco e Rodrigo Mourão, do Ceará em minha casa, em São Paulo. Naqueles dias os levei para conversar com vários membros da comunidade judaica paulistana, incluindo um influente rabino, que ficou muito bem impressionado e surpreso com o encontro.

2014 - Petrópolis - Rio de Janeiro
Shabat - Aulas, palestras e conversas com Benei Anussim na sinagoga Penei Or, do RJ, dirigida pelos líderes comunitários Yitzchak Kayat e Chacham Saul Gefter.

2014 - Viagem à comunidade de Goiânia, com os amigos e ativistas Sami Cytman e Hai Mendel, para apoiar e fortalecer a comunidade de Benei Anussim e candidatos à conversão, local.

2014 - Viagem à Brasilia para evento em parceria com a comunidade dos Benei Anussim de Goiania.









quarta-feira, 25 de abril de 2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Eu? Não!!!



Para que perder tempo no trânsito?
Venha comigo ouvir uma bela história sobre humildade e crescimento pessoal!

terça-feira, 17 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Minha cor? É transparente!

Minha cor é Transparente!

Estava eu recostado, no conforto de minha residência.
Quando inquirido fui, sobre um item de minha aparência:
A cor de minha pele, como se parte fosse de minha essência.

Quem perguntou foi um rapaz, magrelo muito bem articulado.
Com cabelo ao gel penteado, e terno de linho engomado.

Trabalha o nobre mancebo
Perguntando a cada um o que é
E o que faz representando, o instituto do I. B. G. E

Percebendo minha perplexidade, com tão desdita questão,
Boquiaberto ouviu a resposta o desavisado varão:

Sou multicolorido – Eu disse – Como são os filhos de Adão:
Meu sangue é vermelho, tal a terra desde a criação.
Minha bile é amarela, feita o sol do verão.
Meus ossos são brancos quais nuvens, trazidas pela monção.
Minha pupila é negra, tal qual a noite é tingida, pelo véu da escuridão.

Mas preste atenção meu jovem, pois ao falar de minha identidade, não devo lhe faltar com a verdade:
Sendo que aparência mente, citarei só o que me faz gente,
Aquilo que me é imanente:
Minha alma transcendente, não tem cor é feita o ar: Límpida e transparente!

     More Ventura! judaísmo é Atitude!!!.



   "Racista que crê em alma é mais tonto que o descrente, pois a "cor" da alma é....
     Transparente"


 Este poema é uma homenagem as minhas amigas Hilda e Gilda Brasileiro e a seu filho e neto Joseph.
Síntese da essência transparente da humanidade!